Tinha sido tão diligente e habilidosa para cuidar deles. Florestas e rios
Nada significavam para ela, somente os campos, os ramos
Que sustentavam os frutos. Ela não usava uma lâmina qualquer
Mas uma ferramenta especial para podar os galhos
Quando eles cresciam demais, ou fazer delicadas incisões
Para que os galhos enxertados se desenvolvessem e crescessem.
Não deixava que as plantas ficassem sedentas: a água corrente
Estava sempre umedecendo as raízes.
Tudo isso era o amor e a paixão de Pomona."
( trecho extraido do poema Vertumno e Pomona, em Metamorfoses, de Ovidio - Ed. Madras )
Assim Publius Ovidius Naso - conhecido como Ovidio, poeta romano que nasceu no ano 43 a.C e faleceu no ano 17 d.C, inicia o poema "Vertumno e Pomona", que narra o mito da inatingível ninfa Pomona, guardiã das árvores frutíferas e do deus romano que presidia as estações do ano e a maturidade das frutas e dos legumes, Vertumno. Embora fosse muito bela e tivesse vários pretendentes entre pãs, faunos, sátiros, deuses e semideuses, não permitia a aproximação de nenhum deles e vivia isolada cuidando de seus jardins e pomares. Vertumno era o mais apaixonado e vivia arrumando disfarces ou mudando sua forma ( sim, ele tinha esses poderes ) para aproximar-se de Pomona e contemplar sua beleza de perto. Até que certa vez disfarçando-se de mulher velha entrou num dos pomares de Pomona, com a desculpa de apreciar de perto os lindos frutos, e beijando-a ao cumprimentá-la, beijou-a de um jeito muito diferente do que uma velha beijaria uma jovem. E sentando-se, observou uma parreira carregada de belas uvas que se enroscava num olmeiro, então disse:
"Ah, se aquela árvore ficasse ali sozinha, sem companhia,
Sem sua parreira, suas folhas seriam a única
Razão para olhá-la, e a parreira,
Descasada do olmo onde se pendura
Ficaria arrastando-se no chão empoeirado!
Você imita o exemplo da parreira.
Não quer se casar, juntar-se a outra pessoa." *
"E outra coisa a respeito dele:
É diferente do resto, não se apaixona
Por qualquer mulher que vê. Não é volúvel.
Você será seu primeiro, último e único amor
Durante toda a sua vida. E ele é jovem, atraente,
Consegue mudar de aparência à vontade, será sempre
O que você desejar que ele seja, não importa as ordens
Que escolha lhe dar. E ele ama as coisas
Que você ama: é sempre o primeiro a tratar com carinho
Das maçãs que você adora, e enche suas mãos de presentes. Mas o que realmente cobiça
Não são as frutas de suas árvores, nem as mais doces ervasQue seu jardim produz, e sim você apenas. Tenha piedade!" *
* Trechos extraidos do poema Vertumno e Pomona, em Metamorfoses, de Ovidio - Ed. Madras
E contou o caso do jovem Ífis, que apaixonado pela princesa Anaxarete, em vão tentava conquistar a amada, recebendo em troca apenas desprezo e humilhação. Não tendo o moço suportado tanta dor, enforcou-se. No momento em que Anaxarete, por acaso, viu o cortejo do enterro passar e constatou que se tratava de Ífis, sentiu seu sangue gelar e não conseguiu mais se mover, pois seu coração de pedra tinha tomado todo o seu corpo, transformando-a em estátua de mámore.
Mas nada do que fora dito surtiu efeito sobre Pomona, e Vertumno, então, resolveu tirar o disfarce, revelando-se. Foi quando a ninfa, encantanda com a beleza daquele deus, apaixonou-se e passou a corresponder aos sentimentos de Vertumno com o mesmo ardor.
Pomona era considerada também uma deusa romana ( Mitologia Romana ) e não tinha correspondente na Mitologia Grega. Diferente de outras divindades da agricultura, ela não era associada à colheita, mas sim com o florescimento dos frutos. Seu nome vem justamente do latim "pomum", que significa "fruto". Talvez por causa da passagem do poema de Ovidio que diz: "E ele ama as coisas que você ama: é sempre o primeiro a tratar com carinho das maçãs que você adora..." as maçãs sejam associadas à Pomona. Não por acaso, na lingua francesa maçã é "pomme", cuja raiz "pom" da palavra remonta à deusa romana.
Vertumno, era inicialmente uma divindade da civilização etrusca, que ficava no norte da Península Itálica (Italia), civilização essa de origem desconhecida, e que acabou por se integrar de tal forma ao Imperio Romano , que teve sua cultura diluida no mesmo. Vertumno, assim como muitas divindades etruscas, foi adaptado à Mitologia Romana.
Pomona é guardiã dos frutos que nascem e Vertumno rege a maturidade desses frutos, formando juntos o ciclo do desabrochar, crescer e envelhecer eternos, ao rítmo das estações do ano.
E já que a maçã é tão associada à Pomona, e é um dos símbolos do amor e da vida eterna na nossa cultura ocidental , fecho essa postagem com uma receita de torta de maçãs típica americana, daquelas que vemos em filmes e desenhos animados. Pensando também no Natal que se aproxima, pode ser uma boa opção para servir na Ceia.
Torta de Maçãs
Massa
-200gr de manteiga sem sal gelada, cortada em pedacinhos
-1 colher (chá) de açúcar
-1/2 colher (chá) de sal
-2 1/2 xícaras (chá) de farinha de trigo
-1/2 xícara (chá) de água gelada
-1 ovo batido para pincelar sobre a massa
-açúcar para polvilhar
-1 ovo batido para pincelar sobre a massa
-açúcar para polvilhar
Recheio
-8 maçãs medias/grandes, descascadas e cortadas em gomos finos ( use 2 qualidades diferentes de maçãs , eu usei a Granny Smith e a Gala )
-3/4 xícara (chá) de açúcar
-suco e raspas de 2 limões pequenos
-1 1/2 colher (chá) de canela em pó
-1/2 colher (chá) de noz moscada
-1/2 colher (chá) cravo moído
-2 colheres (sopa) de farinha de trigo
Prepare a massa, misturando os ingredientes secos com a manteiga picada num multiprocessador, pulsando por uns 10 segundos, formando uma farofa grossa. Adicione a água gelada bem aos poucos, entre uma pulsada e outra. Não ultrapasse 30 segundos de pulsos no total. A massa não pode ficar grudenta. Para quem é craque em tortas, nem precisa misturar no multiprocessador, pode amassar com as mãos.
Vire a massa sobre uma superficie, trabalhe rapidamente para deixá-la um pouco homogênea ou menos esfarelenta, mas não mexa muito. Divida a massa em duas partes e enrole cada uma em filme plástico. Leve à geladeira por pelo menos 30 minutos.
Descasque e corte as maçãs e coloque numa tigela. Adicione açúcar, canela em pó, noz moscada e cravo moído. Misture bem. Junte, então, o suco e as raspas de limão, misture, e por último, adicione as duas colheres de farinha de trigo, misturando bem, envolvendo todos os pedaços das maçãs. Reserve.
Pré aqueça o forno a 190 graus ( 375 F) ou médio alto. Abra cada parte da massa entre dois pedaços de filme plástico ou saco plástico aberto, estique o suficiente para forrar uma forma de torta ou refratário de 23cm ou 9 inches. Com o auxilio do filme plástico,vire uma parte da massa na forma, forre, arrumando com os dedos. Coloque as maçãs reservadas em colhereadas (vai formar um monte alto de fatias) e cubra com a outra parte da massa aberta, usando a mesma tecnica. Ajeite as bordas, apertando uma contra a outra e fechando a torta. Pressione um garfo em toda a volta da torta. Faça cortes sobre o topo, pincele com o ovo batido e polvilhe com o açúcar.
Leve ao forno entre 45 minutos ou 1 hora, depende do forno, ou até que a massa esteja dourada e o recheio esteja borbulhando. Deixe amornar ou esfriar antes de servir. Pode ser servida pura ou acompanhada de chantilí ou sorvete de creme. Se esperar o dia seguinte para servir, a torta fica ainda mais saborosa. Nesse caso, manter na geladeira e aquecer em forno medio, coberta com papel aluminio antes de servir.